Victória Silva's profile

Introspecção com arte

  ENSAIO ACADÊMICO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA INTROSPECÇÃO
  PROMOVIDA PELO MÉTODO DE MARINA ABRAMOVIC E DA ARTE
  PERFORMATIVA ANALISADO POR MEIO DA EXPERIÊNCIA PESSOAL

  Resumo: Nas últimas décadas, a arte da performance passou por um processo de
institucionalização que possibilitou uma maior visibilidade enquanto prática específica,
ao mesmo passo que buscou separá-la de outras dimensões, o que possibilitou um amplo espaço de destaque no cenário artístico e levou a necessidade de se abrir uma
rede de pesquisas na área. O percurso seguido não apenas reflete nos paralelos entre
prática performativa na arte, como ao mesmo tempo desperta o interesse de se investigar
os diferentes níveis de dependência do objeto performativo na arte. O método de Marina Abramovic propõe o exercício introspectivo na tentativa de que o participante possa construir uma conexão consigo mesmo, o que comprova não só a possibilidade de um aspecto não humano na arte como uma oportunidade para se efetuar uma performance além do corpo do performer humano.

  Palavras-chave: Arte performativa ; Marina Abramovic na arte ;
Importância da introspecção ; Sigmund Freud e a psicanálise.

  Introdução

  Com a origem que remete às pinturas realizadas pelos surrealistas e, sobretudo,
dadaístas, a performance ganha ânimo nos anos 1960 e 1970 ao propor experiências distintas e questionar o modelo artístico e social do modernismo. Nesse período, intensificou-se a necessidade de abertura de um debate na arte pelo mundo com o intuito de transgredir o sistema clássico de criação, o que levou ao surgimento de artistas ocupados na produção de obras experimentais marcadas por uma ideia de mudança contínua.
  Considerada como a avó da performance, Marina Abramovic, iniciou sua carreira no início dos anos 70, suas obras costumam tratar sobre o tempo, as relações e a
identidade, procurando compreender os limites do corpo e descobrir as possibilidades da mente humana. Em Rhythm 0 (1974), por exemplo, uma de suas performances mais conhecidas, Marina disponibilizou 72 objetos que poderiam dar prazer ou dor sobre algumas mesas, desde batons e uvas até tesouras, facas, um chicote e uma arma carregada com uma bala. Com estes objetos, o público foi convidado para fazer o que desejasse com a artista, a mesma ficou à disposição por seis horas. As reações inicialmente foram de precaução e pudor entretanto, após alguns minutos, os espectadores começaram a agir de forma agressiva até alcançar o mais extremo, apontar a arma carregada para Abramovic. Como todas as performances de Marina Abramovic servem como um meio de pesquisa sobre o ser humano, com esta a artista concluiu que a dominação e a superioridade estão intrínsecas no interior do homem.
  A mais recente experiência proposta por Marina envolve a arte da introspecção,
tendo como principal diferença entre suas outras performances o objeto da arte. O 
método tem um manual para sua execução disponibilizando para todos os indíviduos interessados e intrigados, um manual disponível na página Google Arts and Culture, sessão “Opening the Senses”.
  Neste texto será descrita minha experiência pessoal e a importância do método
“Opening the Senses” por Marina Abramovic segundo o estudo psicanalítico da mente humana proposto por Sigmund Freud. O texto usado como base para este ensaio é parte do trabalho Objetos performativos na arte contemporânea, apresentado no Seminário sobre Design Digital e Inteligência Coletiva, ministrado pelo prof. Dr. Marcus Bastos no programa de estudos pós graduados em TIDD – PUC-SP.

  A importância da introspecção na arte da performance

  Na arte contemporânea é através da obra/objeto que atribui-se um “valor
artístico”, que por vezes não se encontra ao alcance do autor da obra limitar sua
intenção pois depende de como o espectador irá interpretar a obra, especialmente se esta envolver um nível de interação mais introspectivo onde o individuo é o corpo da obra e não o contrário. Exemplo de reflexão na arte ocorre na atividade dinâmica, proposta pela artista performática Marina Abramovic, criada para despertar a concentração e capacidade de introspecção dos participantes com o intuito de ativar os sentidos e “criar
energia”. O motivo para esta performance é disponibilizar um método para que as pessoas tentem compreender os limites do seu corpo por meio de uma atividade prática
e fácil.
  É notório que não é atual a tentativa de aproximação que o ser humano busca ter com sua mente pois já existem diversos exercícios para estimular o cérebro, na tentativa de reconectar-se com a sua autêntica essência como por exemplo a meditação, exercícios de respiração, método do espelho e leitura de livros. Entretanto não é necessário se esforçar para alcançar este momento introspectivo, basta aguardar e exercitar a paciência, ao alcançar esse estado de espírito não analise nada, apenas respire e busque se conectar com algo que desperte leveza em seus pensamentos, no caso a arte. Não apenas na arte da performance a introspecção servirá para auxiliar um melhor entendimento do que se está enxergando, sentindo ou ouvindo mas também em outras formas de manifestação artística como na escrita, na própria pintura, no artesanato, na natureza e afins. A arte é a forma como ocorre a conexão do homem com o mundo, a arte está onde se encontra beleza e sentido, onde sua personalidade é ativada.

  A personalidade segundo Freud

  Com base em estudos psicanalíticos de Sigmund Freud, o cérebro humano é subdividido em três partes: id, ego e superego. Para atestar de que a dinâmica introspectiva proposta pela autora do método é importante para auxiliar na compreensão do que se encontra no inconsciente humano, apenas o “id” será apresentado visto que se
trata do componente da personalidade onde a anergia psíquica involuntária é armazenada.
  Segundo Freud o id pode ser classificado desta forma “É a parte obscura
inacessível de nossa personalidade; o pouco que sabemos a seu respeito, aprendemo-lo
de nosso estudo de elaboração onírica e da formação dos sistemas neuróticos, e a
maior parte disso é de caráter negativo e pode ser descrita somente como um contraste com o ego. Abordamos o id com analogias; denominamo-los caos, caldeirão cheio de agitação fervilhante. Descrevemo-lo como estando aberto, no seu extremo, a
influências somáticas e como contendo dentro de si necessidades instintuais que nele
encontram expressão psíquica; não sabemos dizer, contudo, em que substrato. Está
repleto de energias que a ele chegam dos instintos, porém não possui organização, não
expressa uma vontade coletiva, mas somente uma luta pela consecução da satisfação
das necessidades instituais, sujeita à observância do princípio do prazer”
(Sigmund
Freud, 1933, Novas conferências introdutórias sobre psicanálise)
  A agitação do id, nas palavras de Freud, justifica o porquê Marina propôs um exercício de relaxamento para que a dinâmica fosse efetuada, pois assim não há interferência por se tratar de um estado em que o cérebro está “suspenso”, como em um “sono acordado” um estado de repouso do corpo e da mente, longe de qualquer elemento externo que possa romper com a tentativa de alcance do id.

  Conclusão e descrição da experiência

  Em minha experiência pessoal não pude desfrutar de um bom nível de introspecção devido ao estado de estresse mental e corporal promovido pelo isolamento social. Entretanto, o exercício proposto por Marina Abramovic auxiliou para um estado mais consciente do sono, proporcionando em específico um sonho de que me lembre que de fato é compatível com o que venho pensando.
  Em resumo, ao realizar o método algumas horas antes de dormir pude controlar mesmo que de maneira inconsciente os meus sonhos, manipulando-os, o que me deixou satisfeita após acordar e pesquisar o significado do que havia sonhado – raramente me
lembro do sonho passado, então considero isso um avanço pois o método fez com que
eu dormisse mais tranquila e, portanto, tivesse mais facilidade de memorizar elementos
e acontecimentos do sonho.
  É um ótimo exercício mental, apesar de que no momento, sinto um certo teor de desolação como estivesse perdida e precisasse de uma luz. Enxergar o que eu preciso,
retratado pelo meu sonho me incomodou.


POLICARPO, Clayton. Performatividade na arte: entre o corpo e o objeto.

LEÃO, Anna de. Introspecção – um pouco mais perto de si mesmo! Texto
disponível em: <osegredo.com.br/introspeccao-um-pouco-mais-perto-de-se-mesmo/>

AZEVEDO, Tiago. O que é Id segundo Freud? Texto disponível em:
<psicoativo.com/2015/12/o-que-e-id-segundo-freud.html>
Introspecção com arte
Published:

Owner

Introspecção com arte

Published: